com esse silêncio velho dos aloés à beira do mar
nos senteiros daninhos de erva e de pedra
e de terra
à vez seca
à vez húmida
e os seus breves pirilampos e orvalhos
apenas te amo
com a carne magoada de tantos sonhos anteriores
apenas te amo
e
vou escurecendo
: trago o chão todo que pisei agarrado a mim
os homens que amei e a ti
os filhos que pari e de ti
mãos brancas como manhãs jovens de
veludo e
o tempo todo
no tempo todo
agarrado a mim
- apenas te amo com a vulgaridade dos dias
(rente ao corpo
no intervalo pouco de uma vida)
...
inventa-me outro lugar, vá,
-um que seja-
perpendicular ao nome das coisas
para devolver-me esse espanto redondo que é o amor
um lugar, sim,
curvo
fechado
lento
lentíssimo
como o rasto molhado do silêncio
lambendo os caminhos
os aloés
os dias e na terra
à vez seca
à vez seca
o chão que trago agarrado comigo
(demasiado quotidiano, dizes.
é.)
10 comentários:
"inventa-me outro lugar, vá,
-um que seja-
perpendicular ao nome das coisas
para devolver-me esse espanto redondo que é o amor"
Soberbo. Como eu gosto de [te] ler.
Beijo grande
Toquem as trombetas!
Voltaste! :)
Parabéns
os aloés são testemunhas do invisível odor que a paixão deixa suspenso sobre o mar nas manhãs mais frias. deixo-te no meu lugar mais palavras. beijinho. J.
Maravilhoso texto este, o seu. Vim aqui por referência do Rudolfo Elias, e ficarei para sempre aqui...
Obrigada pela escrita perfeita! Um abraço. Até breve. Azul.
poema excelente
Parabens. Nota-se claramente um inato e igneo poder de dizer. Com crueza e paixao. Muito peculiar. Parabens. O "Aromatico" ja me tinha alertado para esta grande beleza. Escassa porem. Continua por favor. Obrigado
declaro-me quotidiana através desta magia que emanas quando escreves, e eu bem sei que a tua caligrafia é redonda, como o Amor!
é esse "silêncio velho dos aloés" que primeiro me parecia um cheiro, depois me parecia um cheiro e depois uma flor estranha, de um vermelho seco, qual será o seu cheiro, queria tanto saber. Mas não, é apenas um "silêncio velho" espectacular, mas é mais um silêncio...
demasiado notório também a voz de al berto, poeta que deves apreciar bastante, presumo.
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