16 janeiro 2009







apenas te amo com a vulgaridade dos dias
com esse silêncio velho dos aloés à beira do mar
nos senteiros daninhos de erva e de pedra
e de terra 
à vez seca
à vez húmida 
e os seus breves pirilampos e orvalhos

apenas te amo 
com a carne magoada de tantos sonhos anteriores
apenas te amo
vou escurecendo

: trago o chão todo que pisei agarrado a mim
os homens que amei e a ti
os filhos que pari e de ti
mãos brancas como manhãs jovens de
veludo e
o tempo todo 
no tempo todo
agarrado a mim

- apenas te amo com a vulgaridade dos dias

(rente ao corpo
no intervalo pouco de uma vida)

                              ...

inventa-me outro lugar, vá,
-um que seja- 
perpendicular ao nome das coisas
para devolver-me esse espanto redondo que é o amor

um lugar, sim,
curvo
fechado
lento
lentíssimo

como o rasto molhado do silêncio
lambendo os caminhos
os aloés
os dias e na terra
à vez seca
à vez seca
o chão que trago agarrado comigo



(demasiado quotidiano, dizes.
é.)







10 comentários:

Micas disse...

"inventa-me outro lugar, vá,
-um que seja-
perpendicular ao nome das coisas
para devolver-me esse espanto redondo que é o amor"

Soberbo. Como eu gosto de [te] ler.
Beijo grande

O'Sanji disse...

Toquem as trombetas!
Voltaste! :)

Jorge Rodrigues disse...

Parabéns

r.e. disse...

os aloés são testemunhas do invisível odor que a paixão deixa suspenso sobre o mar nas manhãs mais frias. deixo-te no meu lugar mais palavras. beijinho. J.

Azul disse...

Maravilhoso texto este, o seu. Vim aqui por referência do Rudolfo Elias, e ficarei para sempre aqui...
Obrigada pela escrita perfeita! Um abraço. Até breve. Azul.

firmina12 disse...

poema excelente

terminalfive disse...

Parabens. Nota-se claramente um inato e igneo poder de dizer. Com crueza e paixao. Muito peculiar. Parabens. O "Aromatico" ja me tinha alertado para esta grande beleza. Escassa porem. Continua por favor. Obrigado

Lisa de Oliveira disse...

declaro-me quotidiana através desta magia que emanas quando escreves, e eu bem sei que a tua caligrafia é redonda, como o Amor!

Alice disse...

é esse "silêncio velho dos aloés" que primeiro me parecia um cheiro, depois me parecia um cheiro e depois uma flor estranha, de um vermelho seco, qual será o seu cheiro, queria tanto saber. Mas não, é apenas um "silêncio velho" espectacular, mas é mais um silêncio...

Anónimo disse...

demasiado notório também a voz de al berto, poeta que deves apreciar bastante, presumo.

ia e vinha e a cada coisa perguntava que nome tinha- sophia

memória