01 março 2008

ao amante in(di)visível

“nem todo o corpo é carne”*,não
ó subtil incandescência dos olhos
rasto da luz coada por entre os dedos
palavra
-nome que se segrega como suores
minúscula e húmida de cor
soprada ao de leve pelos lábios

não é carne
os recessos sinuosos da memória
os lugares de mim onde a língua
percorrendo-te ávida
sobra nos lugares de ti. carne não é
o desfolho do teu tempo
nos quentes concâvos do meu
ou os dias que aí repousam
acantonados entre uma morte
e outra por vir


suspeito que mesmo a flor
tremenda
do meu ventre
rebentando agora cálida à tua beira
não é essa carne viva e pulsante como astro
mas uma qualquer outra história
de invisíveis
e indivisíveis enredos
mãos bocas fios e abismos com peixes dentro
onde marés e olhos
desvendam no mar os rios e
os ardores do sol
sabem
inevitavelmente
ao luar que aí morre

: não carne,
não











*david mourão ferreira

6 comentários:

O'Sanji disse...

Como sempre... excelente!

Happy and Bleeding disse...

se mantiveres esta cadência, já me vou considerando satisfeito :)

Micas disse...

Sem comentários, apenas um beijo imenso :)

Anónimo disse...

luar vivo que ilumina toda a carne do poema ou de quando um peixe que queria ser uma flor se abismou :)

r.e. disse...

um suspiro. tu sabes. lento e quase sonoro. J.

r.e. disse...

um suspiro. tu sabes. lento e quase sonoro. J.

ia e vinha e a cada coisa perguntava que nome tinha- sophia

memória