27 maio 2010

malmequer: bem te quero

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** Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever.
Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o grande acontece. E não me digas diz lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. ou se bate forte com a cabeça. Pelo menos comigo foi assim. Ou como quando se dá uma conjunção de astros no infinito, deve vir nos livros.
Ou mais provavelmente esse tempo nunca pôde existir. Vou pensar melhor a ver se eu próprio entendo. Ponho-me a lembrar o que passou e o que me lembra é só a tua presença forte ao pé de mim. E depois acabou. Deves ter achado que era demais e então acabou. Foste para não sei onde e estás lá fixa quando te lembro...

..Mas agora não quero saber. Nem da tua morte em plano suavemente inclinado. Nem de quando, de quando quê? nem de nada. Não sei amar-te aí, é o caso. Porque só se pode amar na perfeição, depois o amor perde o nome e é outra coisa. Devias ter morrido quando te conheci para ser impossível morreres. Devias ser tudo então para não haver mais nada depois. Esgotares o teu possível para não haver mais possível. Mas houve, acabou-se. Os deuses, como sabes, amam os que morrem jovens porque o absoluto é a sua medida. É assim. Que erro, querida, sermos humanos e fraccionários.

** vergílio ferreira em nome da terra **






e diz lá porquê. diz. que é como quem pergunta
daqui até ao infinto em quanta luz se mede o teu amor. diz. vá lá diz. ohhhh :,,(

e diz lá porquê. diz. se eu houvesse em flor
que cheiro me cheiravas? diz.
se eu houvesse assim em lápis de cores todas arrumadinhas numa caixa caran d'ache
de que folhas m'imaginavas. vá lá diz...
e se o meu corpo fosse um meio de transporte qual o
andante que compravas. vá diz... e em pronúncia estranha
se soletrasses o meu nome
era rosa ou madalena maria
ou pucca girl
era eu ou era marta
era blimunda ou era eu
era eu ou era eu. se em cruzinhas me bordasses
que lençol me embrulharia. queres dizer-me. não. ohhhhh...

e se eu fosse um mapa
e de pontinhos me dissesses
que pontinho descolavas. e se na lua me pusesses em olhos
ou eu houvesse em água lá em marte
que shot tu davas. e em graus celsius ou de richter
o teu desejo de mim
se medisse em sismos
que risquinhos tu fazias. vá lá, olha que faço beicinho...

e se, olha desculpa, mas é que eu sou tão piegas tão piegas
e quero mesmo saber
se eu houvesse assim
em champô dois em um ou em pacotes da nestlé
que sabor tu compravas? se eu houvesse por aí
em ruas de cidade como lisboa
filas de icês dezanove
pilhas e pilhas de processos
reciclados no papelão
ou em
bares manhosos de putas e de sailors
tóquios jamaicas after hours
esgotos a céu aberto
governantes sem pasta na sombra
sombra de batinas a repique
falências e hospitais essepontoa
leucemias e blocos de esquerda sem ar condicionado
etiquetas de saldos e óculos raibane de caracasvelos
ilhas indonésias e tsunamis em estação alta
santas de ladeira a pregar às laranjinhas
ou então se viesse empacotada num contentor
cheia de ucranians por todo o lado
ou portas que chiam e emperram
e da madeira me soprasse com o fétido do jardim
diz lá e se eu por acaso, só por acaso, fosse frígida
e não soubesse
remendar um ovo estrelado
e tirasse com a gilette os pelos do buço
ou se me deitasse sempre
com o creme esparramado de pepino e algas
e comprasse no celeiro
aqueles bolinhos de arroz e te ditasse somos macrobióticos
ou então num suponhamos
que eu além de mamas caídas
tinha um anel no estomâgo pra acabar de vez
com a bulímica existência de table dinner
ou se pelo contrário não gostasse do kama sutra
e te dissesse assim isso é pecado mortal
e em abortos clandestinos dias e dias de salário período em atraso
escrevesse neste blogue sobre
meninos pios enrabados bandas desafinadas a reboque
de maestros de fraque
como channel fo(u)r disney em canal dezoito mimetizada

ou então
suprema realidade perguntativa
eu houvesse numa ratazana
que em primeiro roesse a carne
e depois te viesse nos ossos

diz-me diz-me ainda me amavas?

*é tão fácil o amor* em doses suaves de amaciador
é tão fácil o amor em pink lotions da lancôme
é tão fácil o amor em arrumos de ikea
é tão fácil o amor em coordenados do gato preto
é tão fácil o amor em visa electron
é tão fácil o amor desfolhado na fnac
é tão fácil o amor quando se tem um smart
é tão fácil o amor quando não há multas
por excesso de velocidade
é tão fácil o amor quando se formata uma pizza
é tão fácil o amor se preferires a marca branca
é tão fácil o amor enquanto o marco polo cantar
é tão fácil o amor em happy meals e roupas à medida
no avesso da zara e em colors da bennetton
é tão fácil o amor quando se diz eu amo-te
benzamo-nos com água pia
recitemos um credo natalino
e deitemo-nos com o mourão entre as pernas apertadas
a cartilha decorada
de uma vida tê dois em lusitanas brandas paixões

CORO ( vezes dois )
eu sei
eu sei


é tão fácil amor em dias e dias de sol
é tão fácil o amor uma cabana e um labrador
é. fácil. o amor. é?
é tão fácil o amor
é tão
fácil
o
a
m
m
o
r
pingar-nos chão como quando menstruo
e vem fora de horas
e não tenho um pensinho
daqueles que cabem na mão

e então eu pergunto-me bem me quer bem me quer
e pétala a pétala
percorro
os teus lábios
o teu corpo
poro a poro te chupo sorvo bebo
como mordo arranho
monto cavalgo disparo
entro saio e deslizo
venho vou e aperto
e expludo
a mil à hora o coração
na boca a bater
e o suor cola-me o meu ao teu ventre e depois
subimos um pelo outro como se sobe a escada
para dentro de um avião
e se parte de bilhete e malas
para esse paraíso de praias eternas
areias escaldantes é verão água cálida água límpida
está tudo deserto e somos só nós que silêncio que paz e ...
claque. o melhor dos reality shows és tu. eu uma survivor. uma brother
uma celebrity
em passeio pela tua fama recebo-te como óscar. and now
o espectáculo must go in

vens vindo vens vindo
em marés de sal e de sémen. e fico espantada
porque afinal eu sabia. eras tu. tu mesmo. mesmo que houvesses como eu.
ou em pensinhos da evax.


é tão fácil o amor. quando humanos (re)fraccionários
nos assinamos assim
forever young
forever absolutamente young. a quem os deuses amam. e a sorte protege.






ia e vinha e a cada coisa perguntava que nome tinha- sophia

memória