02 agosto 2007

adaggio


um dia recorda-se: primeiro
uma mão
outra mão e os corpos soprados
no espaço entre elas: os dedos
alongados fios
pensamentos de infinitas cambiantes
as cores
os cheiros
a memória feita pele com pele

: o bafo quente
a criação
e
eis que a pretidão se divide
- dois
infinito e
mais: dois




allegro


dizes
: amo-te na lonjura do tempo
no lugar do tempo
deste
tempo


digo
: amo-te na esquina do tempo
no lugar do tempo
neste
tempo


possivelmente
agora




piano


sobrasse
querido
uma única palavra
: podia até ser
um nome
um só nome
água escorrendo gota-a-gota
pele com pele
por entre as mãos

um pinga-pinga
em que o tempo se esquecesse
e tudo fosse bom
muito bom
e haveríamos de nos anunciar um corpo
outro corpo
a memória de beijos e abraços
e canções de embalar tristezas




pianissimo


na casa. no lugar in-
comum dos corpos.

na cama
no roer do tempo
por sob os lençóis
pálpebras do balanço à vez
suave
à vez brusco
da vida. os dias que o tempo engole e regurgita
em suor e cuspo
líquidos equivocados correndo suaves
noutros olhos
noutra boca
noutras veias

na casa. no lugar-in
-comum: nos beirais
de andorinhas e olhos,
ninhos
a mãos e desejos
entretecidos. dias de casa
: lugar in
comum
ia e vinha e a cada coisa perguntava que nome tinha- sophia

memória